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Os dois pesos e as duas medidas da violência em The Walking Dead

No primeiro episódio da sétima temporada de The Walking Dead, espectadores curiosos sobre a vítima de Negan tiveram o maior choque de realidade que a série já preparou. Nem mesmo a morte de Shane e Lori teve tanto impacto quando ambos eram tão importantes quanto você-sabe-quem quando morreram. Não é a relevância do personagem que define o impacto da morte sobre o espectador e sim, bem, o choque de realidade.

Pois bem. Odiar Negan pelo que fez sem odiar Rick pelos mesmos motivos beira a hipocrisia. Rick é, também, um vilão. Obviamente, o espectador tende a ficar ao lado de Rick por conhecer suas motivações, como ele chegou ali, proteção à sua família, Judith e blablablá.

Mas veja:

negan rick

As duas cenas mostram como os dois grupos tratam de eliminar seus inimigos. Não é por acaso que há o mesmo posicionamento de câmera mostrando Rick e Negan em assassinatos semelhantes. Na quinta temporada, Rick dilacera Gareth dentro da igreja enquanto o canibal implora por misericórdia. Rick rebate dizendo que não poderia deixá-lo vivo, pois supostamente Gareth, em seu novo modo de sobrevivência, faria o mesmo com outras pessoas. O grupo de Rick promove a chacina ali mesmo. Abraham ESMAGA a CABEÇA de um deles com a coronha de sua arma e Sasha mata outro com várias facadas. Glenn, Maggie e Tyreese ficam à distância, assustados com tamanha violência.

Mesmo as ações seguintes de Rick em Alexandria sustentam que ele busca através da força colocar o seu modo de sobrevivência. A diferença entre Rick e Negan é, até aqui (S07E01) o sadismo do segundo. Embora seja mais comedido que outros antagonistas que surgiram na série, Rick é tão violento quanto e são fatores externos (sobretudo os filhos) que o impedem de chegar ao seu estado de natureza.

Ponto importante desse choque de realidade: quando descobrimos a escolha de Negan, sentimos alívio. Certo? Não era o nosso preferido mesmo… e em seguida tomamos a porrada. Que coisa, não?

É um excelente roteiro aliado a uma montagem espetacular.

Os roteiristas de TWD são habilidosos ao espalhar pistas interessantes sobre outros personagens e, assim, permitir que tenhamos um mínimo de empatia com aqueles grupos que ameaçam os “bonzinhos” da série. Por exemplo: ainda lá na quinta temporada, Tyreese fica com Judith e Martin em uma cabana. Martin mostra o quanto está cansado da matança e pede a Tyreese que fuja com Judith ou terá que matá-los até o final do dia. Exatamente o mesmo conflito interno que Carol passa a enfrentar na sexta temporada e que é, sem dúvida, o estopim para o encontro de todos com os Salvadores – afinal, Daryl parte para encontrá-la e os demais vão atrás.

Por falar em Salvadores, não é essa a mesma proposta de Rick cada vez que encontra uma comunidade mais fraca? The Walking Dead me desperta para essa reflexão: Negan determina que metade seja dele e tudo fica bem pra todo mundo. Ele provê segurança sobre outros grupos que ameacem suas comunidades. Rick fez o mesmo em Alexandria. Sob o discurso de manter aquela comunidade à salvo, Rick foi o causador dos conflitos que enfrentou. O protagonista age para manter seus dois filhos a salvo. Assim como o Governador, assim como Gareth, assim como Negan…

Mas os outros eram sádicos…

Bem, o passado do Governador e de Gareth nós já sabemos. O de Negan ainda não.

Será que Negan tentou proteger filhos também? Quando Carl e Judith morrerem, Rick ainda será o mesmo?

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Star Trek: Sem Fronteiras

Star TrekEm mais um grande acerto da cultuada franquia Star Trek, o terceiro filme desde o reboot com os personagens da série clássica é, sem dúvida, o que mais se aproxima das ideias do criador Gene Roddenberry e, com isso, recoloca a série no caminho do debate sociopolítico, que há cinquenta anos conquista uma legião de fãs pelo mundo todo.

Em sua missão de cinco anos à frente da Enterprise, James Tiberius Kirk (Chris Pine) sente a monotonia de uma busca infinita que o afasta cada vez mais da própria humanidade. Após enfrentar grandes batalhas com Nero e Khan nos dois primeiros filmes, o capitão surge entediado com as pequenas missões do dia a dia, afinal, salvar a Federação duas vezes de ameaças gigantescas parece ter deixado a rotina sem sentido. Prestes a assumir o cargo de vice-almirante em uma estação espacial no limite da zona de influência da Federação, Kirk e sua tripulação são convocados a uma missão de emergência onde nenhum homem jamais esteve antes e… bom, não é bem assim. Além da já conhecida tripulação da Entreprise, esse filme apresenta dois novos personagens importantes: a sobrevivente Jaylah (Sofia Boutella) e o vilão Kraal (Idris Elba). Elba se sai muito melhor no papel de vilão do que Boutella em seu papel, ponto fraco do filme, pois sua interpretação não chega nem perto de criar qualquer característica alienígena, mas sim uma humana pintada de branco e só.

Star Trek 1Aliás, Nero, Khan e Kraal parecem sair do mesmo caderno de anotações dos roteiristas e pela terceira vez vemos um vilão com uma arma superpoderosa prestes a se vingar da Federação por algo que ela tenha causado. O que falta para essa nova franquia é inovar no antagonista. Penso que a partir de agora seja a hora de colocar os impérios em ação em vez de combater vingadores cegos de ódio como esses que vimos até agora. Essa falta de desenvolvimento dos antagonistas tem ecos na direção de arte, que ainda investe naqueles gigantescos cenários escuros e esfumaçados como a nave de Nero, a caverna de Khan e, agora, o quartel de Kraal – que merecia um contraste melhor. Sim, há diferenças entre as motivações dos vilões em cada filme, mas há ainda mais semelhanças entre eles, o que deixa um gosto de mais do mesmo.

Graças a tantas outras qualidades, nada disso diminui o filme. Enquanto o subtítulo Sem Fronteiras remete à ideia de um universo em plena expansão, o filme dirigido por Justin Lin e escrito por Simon Pegg e Doug Jung trata de quebrar as barreiras preconceituosas que estão próximas de nós. Não à toa, vemos espalhados aqui e ali rápidas cenas que mostram um casal homossexual com uma filha, uma mulher na liderança de uma grande corporação, um garoto asiático de pele verde e uma mocinha que resolve na porrada a tentativa frustrada do mocinho que falha ao resgatá-la. O que Star Trek nos diz com isso é que esses temas já estão superados nesse futuro distante. Convenhamos, é marca registrada da série que exibiu o beijo de Kirk e Uhura para uma audiência pra lá de racista e que tem uma das melhores analogias do conflito entre Israel e Palestina na série Deep Space Nine.

Só isso já bastaria para Sem Fronteiras ser considerado um dos melhores filmes de Star Trek já feitos. Esse filme mantém a ação frenética dos anteriores e ainda inclui elementos do filme À Procura de Spock – assim como houve elementos semelhantes entre Além da Escuridão e A Ira de Khan. Aqui, se lembramos do terceiro filme dirigido por Nimoy, Sem Fronteiras flerta com a morte de Spock, traz Scotty (Pegg) encontrando soluções “básicas” de engenharia e física, renova a utilização de frequências de som para resolver um problema (alguém se lembra da baleia nos filmes clássicos?) e, como já estava no trailer, apresenta a melhor destruição da Enterprise já filmada em tantas outras oportunidades.

O filme é visualmente espetacular e oferece uma boa experiência para o espectador que optar por assistir a versão 3D. Isso ocorre graças a um excelente conceito de arte empregado para construção da base estelar onde a gravidade é simulada. As pessoas caminham por enormes estruturas de metal onde estão prédios, ruas e trilhos de trem que servem de transporte para quem não quiser utilizar o teletransporte público. O desenho de som e a trilha sonora são outros pontos fortes do filme, responsáveis por tirar um sorriso de satisfação durante o clímax.

Star Trek Sem FronteirasFazendo uma verdadeira homenagem aos cinquenta anos de Star Trek com direito a um brinde respeitosamente comedido e uma foto de arrancar lágrimas, o filme não se esquece de homenagear Leonard Nimoy (falecido em 2015) e Anton Yelchin, este morto trágica e precocemente em 2016 em um acidente de carro. A mais bela homenagem está no momento em que Spock jovem fala sobre o Spock velho, mas o texto é tão lapidado que facilmente seria de Zachary Quinto falando sobre Nimoy.

Torço apenas para que, nas próximas produções, a franquia traga uma guerra entre impérios. Já que estamos em uma nova linha do tempo, que tal colocar Kirk diante de uma ameaça borg ou mesmo cardassiana?

José Rodrigo Baldin, 2016

 

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August 4, 2016 · 10:26 pm

A irrelevância da verdade – Impactos do teatro em Braavos na narrativa de Game of Thrones

Ofuscado pelo belíssimo loop temporal em que se encontra Hodor, o núcleo de Arya apresentou uma cena rica em informações e críticas e, talvez, plantou um desfecho que vai tirar todo mundo do sério.

A cena é aquele teatro em Braavos, onde Arya assiste a uma adaptação da ascensão de Joffrey ao Trono de Ferro, que custou a vida de Robert e Ned.

Primeiro, o benefício narrativo que isso traz: a história central da primeira temporada foi resumida ao espectador de forma objetiva e, mais uma vez, do ponto de vista de Arya Stark. Dessa vez, no entanto, Arya tenta ser “ninguém”. O curioso é o quanto essas transformações são recorrentes no seu arco: logo depois da morte de Ned, ela é abordada por um membro da Patrulha da Noite que a “transforma” num menino para que possa viajar em segurança ao encontro de Jon Snow.

Essa estratégia funciona ainda como rima narrativa dentro do episódio. Há tempos vemos Bran e seus sonhos verdes através dos quais encontra verdades dolorosas do passado de sua família. O que D&D querem com isso? Querem que Arya também acabe no passado e vire uma espectadora, tal como Bran, mas sem verdades.

Os produtores incluem uma crítica que há muito não se vê em GoT, série quase entregue ao deleite de quem busca violência antes do drama desde a quinta temporada.

Notem como a verdade se torna irrelevante diante do objetivo principal do entretenimento. Se isso é uma piscadela deles aos que reclamam das mudanças (como eu), não posso afirmar. Posso aplaudir, porém, pois seja esse um dos objetivo ou não, conseguiram incluir o ódio gratuito e manipulável da massa ignorante que existe em qualquer país, religião, orientação política e afins.

Vejamos.

No teatro, Tyrion toma o lugar de Mindinho como traidor de Ned e surge como um estuprador de Sansa (é genial que isso venha em seguida do depoimento dela sobre os estupros que sofreu). É fácil para o público colocar a culpa sobre os ombros do Duende por puro e raso preconceito, tal como acontece na realidade. Justo Tyrion, que respeitou Sansa e que repudiava o jogo dos tronos que matou o Mão do Rei.

Ao distanciar a realidade em poesia, os produtores mudam o passado, pois as canções permanecem enquanto a verdade míngua ao passar do tempo.

Se quisermos colocar minhocas na cabeça, foi a primeira vez que Arya viu os bastidores da morte do pai. Será que ela tomará essa adaptação da realidade como verdade é buscará vingança contra Tyrion?

Afinal, a morte não vem só para os maus, certo, Jaqen?

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Meu mês de Agosto nos cinemas…

… começou com o excelente The Rover – A Caçada e terminou com o desastre Os Cavaleiros do Zodíaco (crítica ainda não publicada). O saldo é pra lá de positivo. Muitos bons filmes entraram em cartaz nesse mês.

Também tivemos uma mudança importante na Central 42, com novo layout e com mais tecnologia para aumentar o tempo de resposta. Com isso, implementamos mais ferramentas e o que mais nos impacta aqui é novo critério de avaliação dos filmes. Incluímos as estrelas (de um a cinco) que já dá uma imediata informação do que achamos do filme. O que importa mesmo é o texto que dá o embasamento da nota e a composição que sempre leva em consideração cinco aspectos de análise, sendo três fixos (direção, roteiro e cinematografia) e dois variáveis de acordo com o que o filme tem de mais destaque, positivo ou negativo.

Dito isso, dos filmes que vi, as críticas estão aí:

The Rover – A Caçada (4/5): “Ainda que o filme seja mesmo de Pearce, Pattinson mostra uma enorme evolução na sua carreira. De todos os atores que ficaram marcados por longas sagas, o eterno vampiro literalmente brilhante de Crepúsculo é o que mais se arriscou em papéis difíceis sem decepcionar” Leia mais.

Os Guardiões da Galáxia (4/5): “É um filme com ótimo equilíbrio de ação, drama e comédia, capaz de empolgar nas batalhas, emocionar em alguns momentos dedicados à construção dos personagens principais e arrancar risos com piadas orgânicas e inspiradas, especialmente quando Rocket está em cena” Leia mais.

As Tartarugas Ninjas (1/5): “Aquele prêmio Framboesa de Ouro dedicado aos piores filmes do ano poderia passar a ser chamado Prêmio As Tartarugas Ninja. Não fico nada feliz ao escrever isso, mas infelizmente mais uma produção com o dedo de Michael Bay usa personagens carismáticos e com um sucesso prévio em outras mídias para gerar e girar dinheiro, já que certamente será investido em mais bombas” Leia mais.

Os Mercenários 3 (4/5): “É uma diversão garantida. Claro que os amantes de ação são o público alvo de Mercenários 3, mas a produção está longe de ser um pastelão cheio de explosões e testosterona. O filme é capaz de rir dos atores, dos personagens e da própria estrutura” Leia mais.

Mesmo Se Nada Der Certo (4/5): “Com tantos acertos e momentos agradáveis, Mesmo Se Nada Der Certo é um tributo a todos os artistas. Não deixa ninguém pra trás: em perfeita harmonia, vemos o aprendiz, o multi instrumentista, o compositor, o produtor, o músico de rua, o músico de estúdio, o músico de aulas de ballet, o estudante de música, o astro, o que se deu muito bem e o que se deu muito mal” Leia mais.

Lucy (3/5): “Mesmo com problemas, não chamaria Lucy de filme descartável, apenas penso que desperdice um bom trabalho técnico em uma produção que acredita responder o que seria de nós com controle de 100% do nosso cérebro. E nesse sentido, falha” Leia mais.

Filha Distante (3/5): “Produção argentina de 2012 com o título “Días de Pesca”, aqui traduzido sem nenhuma razão para “Filha Distante”, o longa de Carlos Sorin é um trabalho de encher os olhos” Leia mais.

Magia ao Luar (5/5): “Niilista do começo ao fim, o roteiro de Woody Allen questiona o tempo inteiro a existência do sobrenatural com uma ótima dose de humor (dizer que vida após a morte depende do estoque de ectoplasma de cada um é genial)” Leia mais.

Ainda vi Hércules e Cavaleiros do Zodíacos. As críticas devem ser publicadas em breve.

Bom cinema a todos!

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Tyrion Targaryen e Varys Blackfyre

(NOTA: este texto foi escrito originalmente com base nos contos de Dunk and Egg. Editei o texto após ler ADWD e após a quarta temporada da HBO, mas mantive a Terceira Rebelião Blackfyre, o que pode ser aceita até mesmo como a Sexta Rebelião considerando eventos liderados por Aço Amargo, como me alertou um leitor nos comentários abaixo. Boa leitura e bom divertimento. Para mais informações, acesse http://www.central42.com.br , onde publico críticas cinematográficas e de Game of Thrones semanalmente. Obrigado pela visita!)

Agora que estamos na reta final da quarta temporada de Game of Thrones, gostaria de colocar duas teorias em discussão: a origem de Tyrion e de Varys. Defendo com este texto que ambos são dragões, o primeiro filho de Aerys II e ou outro da linhagem Blackfyre.

Para discuti-las precisarei puxar alguns spoilers dos livros IV e V, mas são apenas spoilers “históricos” contados adiante e não acontecimentos marcantes dos personagens, MISTURANDO com o que já passou na série, pois julgo que GRRM adiantou muita coisa dos últimos livros para temperar as primeiras temporadas na HBO. De qualquer maneira, se spoiler te incomoda, não siga adiante.

Desde a primeira temporada (e desde o primeiro livro), Varys já havia dito que servia o Reino, e não aos lordes que se comiam para tomar o poder em Westeros. Enigmático, Varys é o Mestre dos Sussurros, é aliado de Ilyrio Mopatis em Pentos (que cuidou de Daenerys e Viserys após a Guerra do Usurpador) e é claramente um aliado de Tyrion, da mesma forma que se apoiou em Ned.

Trabalhando pelo Reino (qual?), Varys informa Sor Jorah quando Robert envia um assassino para matar Dany na primeira temporada. Foi a Aranha que entregou a Tyrion os caminhos secretos para que surpreendesse pelas costas o exército de Stannis durante a Batalha da Água Negra. E foi Varys quem entregou Ros no lugar de Shae para que Cersei chantageasse Tyrion.

Vamos juntar as pontas.

Na minha opinião, Varys é um descendente dos Blackfyre, linhagem pura de dragões, porém bastardos de Aegon IV. Legitimados pelo pai no leito da morte e donos da espada valyriana Blackfyre (que fora de Aegon I), os bastardos tiveram duas tentativas de tomar o Trono de Ferro, eventos conhecidos como Rebeliões Blackfyre. Ao final da segunda rebelião, alguns conseguiram o exílio em Essos e então fundaram companhias de mercenários.

A teoria é que Varys lidera a terceira rebelião desde os tempos de Aerys II, o Rei Louco, e teve seus planos frustrados pela paixão inesperada de Lyanna Stark e Rhaegar Targaryen, estes que SUPOSTAMENTE tiveram um filho, encontrado por Ned Stark no sul quando foi ao resgate da irmã. Este filho, segundo uma forte teoria, é Jon Snow, um dos herdeiros do Trono de Ferro e enviado à Muralha junto de seu tio-avô, Maester Aemon Targaryen.

Por volta de 15 a 20 anos antes dos acontecimentos de As Crônicas de Gelo e Fogo, Varys tentara jogar Aerys II contra o filho Rhaegar, mas não esperava que seus planos seriam destruídos pelo romance e pela conseqüente guerra que colocou Robert no Trono.

A tempo de salvar alguns dragões legítimos, Varys envia Daenerys e Viserys a Pentos a fim de serem criados por Ilyrio até que pudessem ser usados para restituir o poder em Porto Real. Obviamente um jogo de dados. Assim como o é o envio dos ovos de dragão, cujo a origem é mal explicada por Mopatis.

Outro indício de que Varys tem origem Targaryen é o fato de conhecer (e ter as plantas!) os túneis da Fortaleza Vermelha, segredo garantido somente aos Dragões Targaryen desde a construção do castelo. E se descermos ainda mais aos detalhes de GRRM, a terminação “ys” está presente em muitos nomes da família real, como Aerys, Aenys, Jahenerys, Daenerys, Viserys e Varys. Muito preciosismo da minha parte, mas por que não Aegon, Daeron, Aemon e Tyrion? Ou simples Jon…

Tyrion?

Sim. Tyrion. Em algum momento de ADWD, é levantada a hipótese de que Aerys II e Joanna (esposa de Tywin, morta no parto do anão) tiveram um caso. Mais do que isso, o bebê Tyrion é descrito com uma certa semelhança do bebê Daenerys e os olhos de cores diferentes de Tyrion constantemente citados nos livros (e ignorados na série) podem ser um rastro genético, pois são os mesmos olhos de Shiera Seastar, bastarda de Aegon IV. Outras referências mais sutis formam uma bela rima, como a frase que Tyrion diz a Jon Snow na muralha lá atrás na primeira temporada “um anão é sempre um bastardo aos olhos do pai”. Coisas que GRRM adora plantar.

Essa teoria toma muita força em ADWD, por motivos que vou ocultar neste texto, pois aí sim seriam spoilers bravos e que complementam algumas atitudes de Varys, como ajudar Tyrion o tempo inteiro e chegar a ter lágrimas nos olhos antes do anão partir para a Batalha da Água Negra.

O Dragão tem três cabeças. Quem chegou ao final de ADWD tem uma ideia mais completa disso que estou falando, quem não chegou, sugiro que leia com atenção extra aos detalhes da trama, especialmente os pensamentos.

As três cabeças do Dragão (Targaryen, claro) são: Tyrion, herdeiro legítimo Targaryen, filho vivo mais velho de Aerys, Daenerys, filha de Aerys e meia-irmã de Tyrion, e Jon Targaryen, ÚNICO filho de Rhaegar vivo, sobrinho de Tyrion e Dany.

Varys não está completamente do lado deles, porque na minha tese ele tenta empossar um Blackfyre no Trono de Ferro e a história toma esse rumo daqui em diante.

Acredito que Varys conseguirá tirar os Lannisters do poder, mas terá que enfrentar os três herdeiros Targaryen, montados em dragões, voltando pra tomar o que é de direito. Quando isso acontecer, teremos muitos Starks loucos por vingança.

Se você já leu ADWD, pense nessa teoria com os destinos já traçados de Arya, Sansa (tente encontrar o “título” que ela leva com essa teoria), Bran e Rickon. Pense com o que vai começar a descobrir Sam Tarly. Pense nas filhas de Oberyn Martell.

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Game of Thrones – S04E07

“Eu serei seu SPOILER” (Oberyn Martell)

Como em toda temporada, antes da reta final vem aquele episódio morno para posicionar todas as peças na direção do desfecho. Isso não significa que é um episódio ruim e no caso de Mockingbird é bem o contrário. Mas sim, é muito lento e não deixa muito a comentar sem entrar em spoilers futuros, o que não vou fazer.

O roteiro assinado mais uma vez por Weiss e Benioff coloca o espectador para acompanhar as imediatas consequências do desafio de Tyrion em Porto Real. Mergulhado nas sombras de sua masmorra, o anão tem três grandes momentos com Jaime, Bronn e Oberyn e mais uma vez Dinklage rouba o episódio ao conduzir seu personagem em sucessivas decepções. De volta à direção de mais um episódio, Alik Sakharov acerta ao posicionar a câmera sempre nas reações de Tyrion durante os diálogos, fechando cada vez mais o quadro até o momento em que ouve a crueldade de Cersei quando ainda era um bebê.

Neste episódio descobrimos as reais intenções de Oberyn Martell (do sempre excelente Pedro Pascal) que, ao se oferecer como o campeão de Tyrion, enfrentará Gregor Clegane para poder vingar a irmã e os sobrinhos. É compreensível que neste momento da série o Montanha que Cavalga seja interpretado pelo Montanha que Atua, mas infelizmente não achei o impacto tão forte já que é a terceira escalação para o papel, agora nas mãos do atleta islandês Hafþór Júlíus Björnsson.

Outros núcleos abordados pelo episódio apresentaram um pouco mais da evolução de Arya e sua relação com o Sandor, embora as cenas tiveram mais a função de construir a crueldade de Gregor que estivera longe da narrativa durante um bom tempo e também para ligar diferentes núcleos com algumas rimas temáticas características do roteiro de D&D para dar fluidez e ritmo – dessa vez ao abordar a relação entre irmãos, Cersei cruel com Tyrion assim como Gregor com Sandor, ao contrário da relação de Jon com Arya assim como Jaime e o anão. No núcleo de Brienne, um velho conhecido há muito desaparecido ressurge para dar à grandalhona informações sobre Arya e também para trazer de volta, através de um diálogo importante para seu arco, a turma de Beric Dondarion e Thoros de Myr, que sequer deram as caras nessa temporada. Já na Muralha, quase nada avançou, apenas sabemos que Mance se aproxima com seu exército e que ninguém dá ouvidos a Jon Snow, basicamente uma preparação para o clímax da temporada que, como sempre, será o nono episódio. No núcleo de Daenerys… Naharis e ela, enfim… não vimos nada em Meereen…

… mas vimos tudo no Ninho da Águia. Título do episódio, Sansa conhece cada vez mais Petyr Baelish em uma sequência muito bem construída desde o momento em que ela entra no pátio coberto de neve com a música tema de Winterfell (quando imediatamente vemos uma escultura da fortaleza feita no gelo, um enorme simbolismo ao ser destruída) até o desfecho antecipado nas falas do jovem Robin.

Episódio morno, mas necessário. Em duas semanas a série estará de volta e o título do episódio promete: The Mountain and the Viper.

 

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Game of Thrones – S04E06

“Eu era sua SPOILER” (Shae)

Peter Dinklage é um anão maior do que o Titan de Braavos, maior do que Drogon-caçador-de-cabras. Tyrion não precisa desejar ser um monstro, por trás dele está um ator incrivelmente talentoso capaz de carregar nos olhos qualquer sentimento que seu personagem precise. E Dinklage oscila da confiança ao medo e da ironia ao ódio com tanta força que é impossível não torcer por Tyrion, não temer pelo seu destino em uma série que já levou Ned, Robb, Catelyn e tantos outros queridos personagens de forma súbita sem que o espectador pudesse antecipar suas mortes.

Com mais um excelente roteiro nas mãos, The Laws of Gods and Men escrito por Bryan Cogman, Alik Sakharov (que já dirigiu episódios da série em outras temporadas, bem como alguns em Roma e Sopranos) consegue construir a tensão do julgamento do Tyrion começando com planos abertos e fechando cada vez mais a câmera em closes muito próximos para capturar com detalhes as expressões dos principais personagens envolvidos, sobretudo da família Lannister. Sabendo que o público já sabia que o assassinato de Joffrey fora arquitetado por Petyr Baelish e Olenna Tyrell, e por isso aqui a narrativa era absolutamente irrestrita (nós sabemos mais do que os personagens em cena), Alik, inteligente, vez ou outra posiciona a câmera em Margaery para nos mostrar seu incômodo com toda a farsa do julgamento, pois ela, assim como nós, sabíamos a verdade.

And who are you, the proud lord said, that I must bow so low? Tyrion Lannister, only a cat of a different coat, the only truth I know. Como todo julgamento parece ser quando há uma comoção popular, o acusado geralmente vai juri já condenado. Isso porque há entre pessoas comuns a necessidade de encontrar um culpado e a culpa sempre recai em primeiro lugar sobre aqueles que representam qualquer divisão social passível de preconceito. E é o caso de Tyrion, um anão com status social acima de muitos, sem contar sua inteligência bem acima da média daqueles com quem divide sua nobreza. In a coat of gold or a coat of red, a lion still has claws, and mine are long and sharp, my lord, as long and sharp as yours. Novamente Dinklage entrega uma magnífica interpretação e pela primeira vez vemos uma atuação de ódio e explosiva (antecipada no diálogo por Jaime). Não bastasse o posicionamento de câmera mostrando o crescimento de Tyrion nos minutos finais do episódio, a trilha sonora contribuiu com algumas notas de The Rains of Castamere ao estabelecer o confronto do anão com Tywin, que viu seus planos iniciais em risco quando o acusado pediu o julgamento por combate (como já o fizera no Vale lá na primeira temporada).

A sequência do julgamento teve um peso tão forte que ao olhar minhas anotações que faço enquanto assisto ao episódio, notei que tinha coisas em outros núcleos das quais tinha esquecido tão pouco tempo depois. E que sim, foram importantes para avançar outros núcleos, mas que foram enfraquecidas pelo que vimos em Porto Real. Não por acaso, Cogman ganhou tempo ao trazer de volta Yara Greyjoy com uma narração em off sobre suas motivações de resgatar Theon sobre uma cena de sexo com Ramsay Snow/Bolton. Se a cena é eficiente ao mostrar a urgência de Yara sobre a tranquilidade de Ramsay, infelizmente o desfecho soa inverossímil, pois não faz muito sentido ter deixado a mulher escapar pelo simples prazer de permitir que seus cães a caçassem, sabendo que ela poderia voltar mais tarde com um exército ainda maior do que um grupo de assalto. Apesar disso, entender que Ramsay é cruel mesmo quando concede um pequeno prazer a Reek (quando ele mandar tirar as calças) mostra como a construção deste vilão foi bem feita. É daqueles que incomodam quando estão em cena e quando não estão, pois tememos pelo que podem fazer em seguida.

Em Meereen, Daenerys deve ficar em fogo baixo sob demanda de uma aculturação falha. É interessante perceber como há uma sutil rima temática nas sequências de Dany e Tyrion, visto que de um lado o anão é vítima de um julgamento armado, do outro a rainha deve julgar todas os pedidos de seu novo povo. E imediatamente percebe que não apenas seus filhos dragões podem trazer estrago ao reino justo que deseja construir, mas também suas próprias decisões podem ser equivocadas, como condenar um inocente pelo simples fato de ser um membro de mestres das cidade.

Com o cuidado de mostrar Stannis fora das sombras pela primeira vez em muito tempo (o que em termos de linguagem significa muita coisa), Sakharov apresenta Braavos e novos personagens em uma nova reviravolta na história. Em análises anteriores, citei o cuidado ao mostrar um Stannis falido em contraste com as extravagâncias do casamento de Joffrey e que agora consegue o apoio financeiro de um banco em Essos. Mark Gatiss finalmente faz a sua estreia como o banqueiro Tycho Nestoris, mostrando uma civilidade muito maior do que qualquer outra família que vemos em Westeros. A interpretação de Gatiss deixa bem clara a relevância da selvageria pelo Trono de Ferro e a decisão de apoiar os dois lados do conflito mostra como, em geral, guerras são interessantes para qualquer sistema financeiro. E o que isso tudo pode significar?

And so he spoke, and so he spoke… that lord of castamere… but now the rains weep o’er his hall… with no one there to hear… yes now the rains weep o’er his hall… And not a soul to hear…

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Game of Thrones – S04E04

“Sou SPOILER Stark de Winterfell!” (Spoiler)

Finalmente Game of Thrones assumiu uma posição que há tempos espero ver: a de adaptação. O que deveria ser óbvio, mas, a julgar pela reação do público leitor de As Crônicas de Gelo e Fogo, que na maioria das vezes espera ver na tela exatamente o que sua cabeça imaginou, parece que poucos entendem o conceito de adaptação, bem como necessidades especiais que a mídia exige. Não quero dizer com isso que não me espantei com a cena final dos Caminhantes Brancos e com o diálogo entre Olenna e Margaery Tyrell, este último esclarecedor sobre os responsáveis sobre a morte de Joffrey. Mesmo com um certo incômodo, é um choque positivo, pois dá a impressão de que, mesmo conhecendo a história, podemos ser surpreendidos – o que torna a experiência ainda mais prazerosa. Termina aqui qualquer relação entre meu texto e livros, afinal estamos falando da série adaptada e ponto final. E se ainda há quem diga que a série é misógina por trazer “mulheres como objetos” e racista por trazer poucos negros (sim, eu li um absurdo desses), Verme Cinzento e Misandei derrubam as duas acusações levianas de uma vez por todas.

E a série vai muito bem em vários aspectos narrativos e técnicos. No núcleo de Daenerys, cada vez mais influente e poderosa como libertadora de escravos, vemos uma sequência onde Verme Cinzento é educado nas letras por Misandei. Além de tocante e simbólico no sentido de mostrar o quanto Dany liberta e evolui seus imediatos, a sequência ainda forma uma rima temática com o núcleo de Davos em episódios anteriores, que também aprende a ler, mas com ajuda da pequena Shireen e não de Stannis. Vale destacar a belíssima composição do longo diálogo em valiriano entre os escravos em Meereen, onde, não por acaso, foi palco da perseguição dos Mestres por ruas estreitas, o que remeteu a algumas sequências de Porto Real, principalmente durante a fuga de Sansa no segundo episódio. A função disso me parece ser para mostrar a grandeza da cidade, especialmente quando a câmera traz khaleesi de baixo pra cima para ressaltar o poder que conquistou, já no topo de sua pirâmide e com a bandeira Targaryen sobre a harpia.

Com mais um bom trabalho de montagem, o episódio dirigido por Michelle MacLaren (quem acompanhou Breaking Bad conhece bem seu trabalho, incluindo o excelente episódio To’hajiilee) transita de um núcleo ao outro com sutis raccords nos próprios diálogos escritos por Bryan Cogman, fazendo com que o episódio flua muito bem no começo enquanto acompanhamos a posição de alguns personagens sobre o Casamento Roxo. Jaime volta neste episódio bem diferente daquele que protagonizou um dos maiores escândalos na semana passada, repudiado mais uma vez pela ala puritana de fãs de ASOIAF, que acha normal haver sexo entre irmãos em um septo ao lado do filho morto desde que haja consentimento da mulher. De qualquer forma, é uma excelente construção de personagem que, apesar de ser um regicida estuprador, é capaz de tomar decisões sensatas ao ouvir Tyrion (que planos excelentes sugerindo que ambos são prisioneiros!), ao dar uma chance a a Brienne para que cumpra a promessa feita a Catelyn e, já no final das suas cenas, de segui-la por alguns metros expondo através da expressão corporal que poderia sim ir com ela, mas que precisa ficar e cumpri seus votos de comandante.

Apesar de não concordar com a opinião de que a série se tornou misógina a partir do estupro do terceiro episódio, posso concordar que com um pouco mais de cuidado de Alex Graves, essa balburdia teria sido evitada. Refiro-me à cena da linda Margaery na cama do jovem Tommem, que foi perfeitamente construída por MacLaren chegando próxima de se entregar a outro tema igualmente polêmico (pedofilia) e que cumpre a função de mostrar o futuro rei seduzido pela rainha sem apelar para a exposição sexual.

Que não ficou de fora do episódio. Além da Muralha, muitas mulheres eram estupradas e espancadas pelos corvos desertores e eu duvido que alguém levantará essa bandeira agora. Alguém arrisca dizer que Michelle MacLaren é misógina? Nesta mesma sequência, o núcleo de Jon e Bran ficaram próximos de se cruzar e antecipação do encontro dos irmãos foi retratada de forma belíssima com os lobos gigantes, imediatamente interrompida com a prisão de Verão. Por um lado, há um belo trabalho de efeitos especiais quando Bran “desliza” para a mente do lobo (notem os olhos mais vivos do Verão se virem o episódio novamente), por outro são acontecimentos com poucas consequências, pois quando são presos, sabemos que Jon já planejara ir à Fortaleza de Craster e logo pouco tememos pela vida de Bran, Jojeen, Meera e Hodor, por mais que pareçam em perigo.

O final, na opinião de quem escreve, é o que há de mais controverso. Não digo isso como leitor do material original que sabia pouco sobre a origem dos Caminhantes Brancos, mas sim como espectador da adaptação. A essa altura da série, qual é a razão de mostrar os Caminhantes Brancos, tão violentos no começo de tudo, tão ameaçadores no final da segunda temporada e tão místicos até agora, como uma espécie de divindade capaz de transformar um bebê humano em um deles com um delicado toque frio? Evito julgamentos. Espero para ver que tipo de impacto esses novos personagens causarão na série, arrisco dizer que R’hllor deve tomar forma logo, ou fará pouco sentido apresentar as entidades da forma que mostraram. Especialmente as mãos frias. 😉

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Game of Thrones – S04E03

“A diferença entre piratas e SPOILERS…” (Davos)

Sempre que um personagem muito importante é morto em Game of Thrones, a semana seguinte inevitavelmente mergulha nas consequências na maior parte dos núcleos e, em geral, são excelentes episódios cuja força reside sobretudo nos diálogos bem construídos. O grande destaque de Breaker of Chains é essa exposição dos personagens de forma direta, ainda que haja também muita força no contraste dos cenários sombrios e planos fechados onde estão os Starks, Lannisters e Baratheons contra o excesso de luz e planos abertos na fotografia dos Tyrells, Oberyn Martell e de Daenerys.

Iniciando no exato ponto onde acabou o episódio anterior, o diretor Alex Graves apresenta essas consequências a partir da família de Joffrey com uma sequência perturbadora em tantos níveis que fica cada vez mais fácil lamentar pelo jovem rei morto. Não pela sua morte, mas por ter nascido ali. Lena Headey se destaca na sequência do Septo de Baelor, sobre o corpo do filho, quando através de suas expressões faciais mostra a indignação e o desprezo de Cersei ao constatar a frieza com que seu pai, seu filho Tommem e seu irmão e amante Jaime tratavam a morte de mais um rei, e não de um jovem familiar. Com um roteiro muito bem amarrado (Weiss e Benioff no roteiro é sempre boa notícia), essa sequência formará rimas temáticas com o núcleo de Davos, quando ele ouve Stannis dizer que não será só uma página na história de outro rei (como Joffrey agora o é) e com a orgia consentida de Oberyn contra o estupro que Cersei sofre de alguém que ama.

Em Pedra do Dragão, a explicação de Davos à pequena e doce Shireen sobre a diferença entre piratas e contrabandistas também terá reflexo em outras duas sequências importantes envolvendo as irmãs Stark, onde facilmente consigo ver a ironia de Baelish como um contrabandista e Cão como um pirata a partir da definição de Seaworth. O paralelo curioso entre Sansa e Arya é, também, que as duas pedem justificativas para os atos de violências que presenciam, mesmo que ambas tenham visto e consentido atos de violência gratuita em episódios anteriores. Gosto muito dessa maneira de discutir o tema e acho perfeitas as respostas de Petyr (“Não confio em tolos bêbados”) e de Clegane (algo como “Quantas cabeças de Stark precisarão ser arrancadas pra você entender?” – frase ignorada pela legenda, o que faz perder o peso do que é dito a uma criança Stark! Pena.).

Outros dois paralelos foram estabelecidos pelo roteiro e lapidados pelo trabalho de montagem. O primeiro é mostrar o exército e a força do exército de Daenerys Targaryen imediatamente após Jon Snow detalhar o tamanho da tropa de Mance que se aproxima da Muralha. A montagem é inteligente ao mostrar os exércitos alinhados contra o saque selvagem liderado pelos Thenns e também ao mostrar um traveling nos muros de Meereen, uma rima visual com a Muralha fria da sequência anterior. O segundo paralelo interessante é o duelo de Daario contra um campeão da cidade sitiada, antecipado pelo diálogo como recurso narrativo entre Oberyn e Tywin sobre o Montanha, e que também funciona para construir um pouco mais de Naharis, que a partir de agora ganhará mais importância no núcleo de Dany, libertadora de escravos.

E por falar em escravos, também gosto muito da abordagem que Benioff e Weiss usam para estabelecer a relação entre liberdade e lealdade, e isso, que já ficara muito claro entre Dany e seus Imaculados, ganha ainda mais peso na cena de Pod e Tyrion.

Minha conclusão é que sabemos por quem torcer. E não é por Petyr… que esmagou uma jóia do colar de Sansa antes de jogá-lo junto ao corpo de Dontos. Isso foi por acaso?

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Game of Thrones – S04E02

“Traga meu SPOILER, tio!” (Joffrey Baratheon)

A violência gratuita em Game of Thrones é mais do que um tema recorrente na série. É, em muitos casos, um estilo de vida seguido por personagens de diversas culturas e que talvez nunca se encontrem na história, como nos indica a banalidade ao caçar uma jovem para dá-la aos cães ou mesmo queimar parentes em nome de um Deus único. Essa abordagem é mais do que apropriada nos dias hoje, já que, mesmo distante de Westeros, vemos isso em várias partes do nosso mundo real com motivos semelhantes e igualmente injustificáveis. Particularmente torço para que não vejamos em Westeros pessoas amarradas em postes ou, pior, uma enorme massa aplaudir esse tipo de atitude. Aí seria o fim dos Sete Reinos.

Ironias postas de lado, o segundo episódio The Lion and the Rose, diria que tão aguardado pelos fãs quanto o Casamento Vermelho, foi escrito pelo criador da saga literária, George R.R. Martin, e dirigido por Alex Graves de forma concisa e segura demais – o que é uma pena. Sem o mesmo brilho do episódio anterior, principalmente na montagem (o raccord de Theon para Tyrion comendo uma linguiça foi desnecessário), este segundo episódio é carregado pelo peso dramático do desfecho do casamento real e só. E que, ok, é muito.

O Casamento Roxo, clímax da noite e como será conhecido daqui em diante, permite algumas análises técnicas do episódio e, principalmente, uma visão crítica sobre a violência como tratei no primeiro parágrafo. Acredito até que seja natural a empatia pela família Stark (e mesmo por Daenerys) em contraste com o ódio que o espectador constrói desde o episódio piloto por personagens como Jaime, Cersei e Tywin. Ocorre que ao longo de três temporadas já vimos monólogos de Jaime e Cersei onde os personagens buscam justificativas para as respectivas atitudes – ainda que não nos convençam completamente, não vejo como julgar Jaime por matar um Rei prestes a queimar uma cidade inteira, ou mesmo Cersei, uma mulher objeto obrigada a casar com um homem que não ama e que ainda se torna um alcoólatra promíscuo e violento (seja dito: o primeiro motivo é mais do que suficiente pra transformar Cersei em qualquer monstro que imaginemos). A crítica à violência reside no fato de que somos atraídos a gostar e concordar com a frieza da pequena Arya, pois a conhecemos antes de se tornar uma assassina vingativa ao passo que ignoramos as medidas de Jaime ao matar o Rei para evitar a morte de inocentes e a estratégia de Tywin ao eliminar Robb e quase toda sua cúpula militar para terminar uma guerra inteira. E sim, a morte de Joffrey em seu próprio casamento (naturalmente uma rima temática do Casamento Vermelho) é mais um exemplo de como somos atraídos pela violência de alguma forma. Em um raro momento de Graves, ele acertou ao construir planos que abrem várias possibilidades para um novo regicida (Tyrion e Sansa tocam a taça envenenada e em seguida ela é vista próxima à Olenna Tyrell – que momentos antes “ajustou uma jóia na menina Stark”) e também ao colocar Joffrey em planos fechados para mostrar a evolução do envenenamento do jovem rei alternando com a reação do público e, sobretudo, de Cersei. Como um amigo diz, mas em outras palavras, “Sempre que na série toca As Chuvas de Castamere, alguma coisa ruim acontece”.

Do ponto de vista narrativo, o roteiro de Martin aproveitou o casamento para mostrar a diferença entre Pedra do Dragão e Porto Real de forma inteligente. Enquanto Stannis sempre coberto por sombras (por vezes causadas pelo fogo do Deus que agora segue) e em ambientes com paredes de pedra sem cores, portas pesadas e figurino escuro surge comendo carne podre, a nova rainha diz, em uma Porto Real alegre e colorida, que o povo da capital será alimentado com o que sobrar do banquete. Uma comparação visual e narrativa necessária para estabelecer a falta de equilíbrio entre os reinos beligerantes.

Martin ainda mostra uma grande preocupação com o rumo de alguns personagens que sofreram consideráveis mudanças e dedica uma boa parte do roteiro exclusivamente para posicioná-los na temporada. É o caso de Theon (agora Fedor), cada vez mais entregue aos comandos de Ramsay, de Jaime que agora deve aprender a arte da espada para resgatar sobretudo sua alma de guerreiro da Guarda Real, e de Bran, cada vez mais próximo de conhecer a amplitude dos seus sonhos verdes (e como foi bom ver Ned de volta pela mente do filho!).

Ainda créditos a GRRM, o episódio ganhou muita força nos diálogos e aqui destaco mais uma importante participação de Oberyn Martell, que mais uma vez mostrou intenções nada amistosas e trouxe de volta à história Myrcella Baratheon, única filha de Cersei, que vive em Dorne sob proteção da família do Víbora Vermelha.

Não foi um episódio ruim, mas esperava mais tensão no desfecho. Acredito que isso foi devido à exposição extrema da violência nas primeiras sequências em contraste com o casamento e também pela condução dos atores em um modo automático sem grandes interpretações, exceto, como de praxe, Peter Dinklage.

No próximo episódio, Jon e Dany estão de volta e acredito muito que a temporada já comece a crescer a partir dali. Os dois primeiros capítulos mostraram que todos os núcleos estão em ebulição e nem mesmo um Rei no dia do seu casamento está a salvo. Valar Morghulis.

(uma pequena nota final: espetacular tinir da espada de aço valiriano de Joffrey!)

UPDATE: voltando à violência gratuita, é genial que Alex Graves não mostre o estrago da garota no início. O espectador sente por ela. Ao final, vários planos mostram o rosto de Joffrey e o espectador vibra. Não é de graça o plano subjetivo onde Joffrey aponta o dedo para a câmera como se fôssemos nós os culpados. Ok, mais um ponto para Alex Graves.

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